segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Desaforismos e outros ismos
Existem palavras
e existe tudo igual
existem aforismos
existe o Karl Kraus
existem histórias
e existe Lulu pra entender
existe um bolo na garganta
“tem certas coisas que não sei dizer”
existe o silêncio
onde existe uma fera
e existe o domador
de sobrenome Kundera
existe o tal do poema
que existe sem existir
e existe Maiakóvsky
pra chegarmos sem mesmo ir
existe o tempo
onde existe a prosa
como sentado num bar
existe Guimarães Rosa
existe cego o romance
dentro do que chamamos arte
existe o que é bom
e existe Roland Barthes
existe a análise
de todo discurso vago
e existe um desaforo
mal chamado Paniago.
A identidade de um homem só
A Capital Federal
Chega de cabelos soltos,
mesmo sendo triste o agora
ela conseguiu ainda
vestir o seu melhor sorriso
e caminhou.
Caminhou pelas entre-quadras
dando asas ao avião,
mudou seus poucos planos,
deixando o piloto sem direção.
Se ela se apegasse à Brasília
era bem possível
que envelhecessemos juntos.
Mas nada do que faço ou digo,
faz mudar sua contra-mão.
Pra se viver mais
Não entendo essa tua ânsia em se fazer de louca,
isso tá te deixando tonta,
tá fazendo você se perder.
Acho que você já passou da conta,
acho que você se lembra,
do livro que comprei na tua frente,
dos segredos que contei à tua fronte
e das tuas próprias obras,
aonde foi que tudo isso se perdeu?
Não, não me venha com essa cara de sonsa,
a conversa é séria,
quero que você me ouça,
você nunca foi de gostar de sobras,
deixa desse fuzuê,
deixa dessa bobagem,
que esses corpos não te informam nada,
vai seguir o teu caminho,
você já fez sua própria casa,
não precisa da sombra de ninguém.
Escuta quem te quer bem.
Coloca os teus desejos no lugar.
Qualquer coisa estarei aqui, pode me ligar.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Estradeiro
Pra chegar,
antes
é preciso se perder pelo caminho,
andar algumas horas
com os pés no chão,
amar quem encontrar,
falar bastante palavrão,
perdoar seus inimigos,
escrever um poema,
ou não.
Pra chegar,
depois
de um tempo longe de tudo,
é necessário partir
de uma canção,
que fale bastante de amor,
que seja de voz e violão,
que te faça perder o ar,
que toque mesmo
o coração.
É preciso de amor e saudade
pr'um homem sair do lugar.
Coisa simples
Você pensa que acreditou por engano,
e quando vê,
já se passaram não sei quantos anos
com você persistindo.
Daí você descobre que o amor é uma faca cega,
não fere, não mata e não morre,
de vez em quando ele até se enconde,
mas depois aparece, mais vivo e mais forte.
Quem foi que disse que não vale a pena
[ se apaixonar? ]
Esse alguém, de certo, é um suicida,
que falece todo dia
morrendo de medo de se doar.
Nós não, ressucitamos a todo momento,
pra fora e pra dentro,
e nos encontramos no mesmo lugar.
Eu te amo e nem sei o quanto,
quem sabe um dia eu possa até entender,
desse descontrole que pinica
e mora dentro de mim,
e de você.
Tratado para o amor eterno
Casa com ele numa noite fria, para que o único verão venha do sol do seu umbigo.
Conte pra ele toda noite, aquela história de ninar que sua mãe te contava quando menininha.
Agarre o corpo dele quando sentir medo, assim você se protege confortando.
Diga que o ama e as vezes que o odeia, mas nunca, nunca fique calada. Sua voz pode servir de amparo.
Deixe que ele saia com os amigos e respeite suas manias, você também tem as suas e não é diferente de ninguém.
Separe, assim como as roupas, as suas estórias das dele. Essa é a melhor forma de não deixar a conversa acabar.
Grite, mas grite baixinho, ele pode perceber que você exagerou no vinho e passou da conta.
Imponha seus limites e deixe isso bem claro.
Abra concessões de vez em quando. Numa hora dessas, você pode se impressionar.
Beba, encha a cara, fale bobagem e peça pra ele te levar até a cama. Gestos como estes fazem o amor pulsar.
Seja uma mulher diferente a cada dia. Mas seja você mesma. Afinal de contas, ele se apaixonou por você.
Desse jeito, só a morte separa.
Pra matar a fome e alimentar a alma
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Ensaio sobre a loucura
Por falar em saudade
O mesmo fascínio
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Lá dentro
Feito criança
coisa de amor desesperado
te trago um presente
insisto em ter você do meu lado.
Te amo pra dentro
e não há meios de externá-la
deixo um bilhete junto
pra ler quando estiver em casa.
Sonho todo santo dia
com aquele sorriso bobo
esqueço logo de manhã
mas de noite lembro de novo.
Feito um menino
que ama sem saber por que
olho sua foto e choro
é uma tristeza linda amar você.
Quando te leio
Entenderes
Já não se via mais lavando os pratos e escutando música.
Talvez ela ainda alimentasse o sonho vago de ser só dele, mas é que todos aqueles ombros largos
que roçavam em seu pescoço, mostravam o que ela queria ver de verdade.
Mariana era uma moça louca e só.
Eu sempre a observei de longe tentando tirar uma lasquinha daquela sua liberdade.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
(des)compartilhando prazeres
Pela palavra ( para Philip Roth )
Embora tudo o que tivesse acontecido entre eles, aquele moço de calças apertadas tocou a campainha.
Ela, pronta pro que desse e viesse, não necessariamente nessa ordem, abriu a porta.
Os dois fitaram-se por alguns instantes.
É justo nesse momento que o ser humano entende a palavra logo-logo.
Entraram, conversaram um pouco e decididamente fizeram amor.
Foi para ele o momento mais bonito.
Se despediram, ela fechou novamente a porta sentindo os medos de outrora.
Ele foi visitar um amigo não sei onde.
Qualquer que seja o desígnio, não explicaria essa paixão imbecil, fraterna e covarde.
Piegas ( e um pouquinho de sensatez )
Nas horas de despedida
Algo em nós, termina por aqui.
Daqui pra frente, vamos olhar um para o outro como se nada tivesse acontecido,
mal seremos amigos,
talvez um oi e só.
Acabamos sem realizar nem a metade do que sonhamos,
sobraram muitos planos
pra gente dividir com futuros alguéns.
Quem sabe eles, quem sabe...
Acaba por aqui muito do que fomos, por que duvido,
que mesmo assim seremos.
A gente vai, no fim, aprender alguma coisa com isso.
Bem, pelo menos é isso que dizem.
Foi bom, no final das contas, termos nos conhecido,
assim, como merecemos nos desencontrar.
Não damos certo, é fato.
Mas não custa dizer que valeu.
Olha, eu vou daqui. Fica com Deus.
O grande espaço
É por que quando sinto meus passos no asfalto
de novo me vem você
com essa carinha de quem não sabe o que fazer
pra me ter de volta, e que a porta
estará aberta quando eu chegar.
Me sinto estranho e bobo
não sei o que fazer de novo
se o que mais quero
é nunca mais voltar.
Não sei, dizendo a verdade,
como olhar em seus grandes olhos cinzas,
que a lágrima da aurora molha.
Se fosse apenas o choro de quem não ama,
mas tem nesse orvalho, distância.
Eu preciso mesmo ir.
Você espera se quiser.
Durante a esperança cega toda ciência se anula.
Não vou te propor entender minha partida.
Hoje, amanhecendo o dia,
só quero te dar um beijo na testa
e te mostrar que ainda resta
um mundo lá fora.
Brinde noturno
Cai a noite e há um grito
o estampido comove a escuridão.
Há um disco e há um livro
penso em Porter
e em como seria a vida lá fora
nesses dias que se vão.
O meu amor é um asteróide míope
que se choca
em qualquer lugar.
A minha voz é um deserto
frio e só.
Mas, como os peixes que se guiam
sem qualquer explicação
naquele bar, naquela noite, eu te encontrei
cheia de estrelas perdidas
com areia até o pescoço.
ali, foi quando o mundo nasceu pra mim.
A história das estrelas
Se fosse uma tarde fria,
dessas que se aninham no céu
das seis horas
certamente a gente se daria melhor.
Hoje, apesar dos passos e conversar firmes
eu me lembrei de você.
Fosse a saudade um livro
do Rimbaud
eu teria você do meu lado
ou em minhas mãos.
Mas há quem diga que partir é morrer
e que são tristes as despedidas.
Talvez por isso,
que eu nunca mais te vi.
Estiva
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Das coisas que encontramos pelo caminho
Dentro desse problema
que sempre aconteceu entre nós,
há um dilema,
se andamos lado a lado,
por que é que ainda estamos sós?
Muito do que resolvemos
não adiantou na vida real,
e a sorte de ainda sermos,
foi por que nunca fomos
e sempre será assim, não leve a mal.
Tudo que a gente precisa saber
deve estar em algum lugar
entre eu e você.
Tudo na vida que for pra gente entender,
haveremos de encontrar,
você vai ver.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Horizontal
Dentro dessa cabeça
gira um moinho
percorrem caminhos
e se revelam fotografias.
Dentro dessa cabeça
passa um rio
pensamentos a mil
há um mundo e há Brasília.
Dentro dessa cabeça
vários lugares
muito chão, sete mares
um vinho e um violão.
Dentro dessa cabeça
é onde se escondem as estrelas
nas noites de chuva
esperando chegar o verão.
Dentro dessa cabeça
Existe um verso
e todo o universo
dentro dessa cabeça.
Ao sol do meio-dia
O asfalto pula
a mente viaja
ando muito
você não está em casa.
O corpo treme
você disfarça
te vejo na rua
toda sem graça.
Te olho calado
você não fala nada
como dois estranhos
a gente nem pára.
Volto cantando
com a alma lavada
o mesmo caminho
a mesma estrada.
Leve e tranquilo
não era quem eu procurava
nem feri e nem fui ferido
foi uma boa caçada.
Olhar fleneur e algumas outras bobagens
Coisa de gente grande
amarrar árvore com barbante
tirar o último livro da estante
achar que o novo é muito pior
que antes.
Coisa de gente amarga
reclamar com quem não dá descarga
ficar dois meses sem fazer a barba
dar cinco voltas na chave na hora
que sair de casa.
Coisa de gente feliz
falar tirando meleca do nariz
fazer o óbvio e sair por um triz
e nunca acatar o que gente grande
faz e diz.
Coisa de gente esperta
ter a mente sempre aberta
falar com o cara vendendo a meleca
cada dia é diferente, cada noite
é uma festa.
Coisa de gente como eu
encher a cara ao receber um adeus
voltar pra casa sem falar que bebeu
e ter um coração que sempre
será seu.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Seguiremos com o olhar no horizonte
Vamos olhar pra frente.
Falar do passado é lembrar que você não existia pra mim.
As fotos eram tristes,
de um branco e preto vazio, e eram imensas as noites que você
não estava aqui.
Pois bem, o futuro traz agora a paz que precisávamos,
e podem correr soltas as folhas caídas no quintal.
Há muito mais coisas pra contar
olha o tanto que você e eu crescemos!
Você não percebeu o quanto a comida parece
ter mais sal?
Rezamos juntos e dormimos juntos.
Falamos e fazemos amor.
Sentimos o vento no rosto pela janela do carro,
nos sentimos lado a lado,
Desse jeito Deus abençoa.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Entre tudo o que já é.
Seja
minha cara metade
minha luz
minha vontade
seja você.
Seja
meu maior interesse
meu ponto fraco
num dias desses
seja eu.
Seja
sendo como é
moça de tantos sonhos
meu bicho de pé
apenas seja.
Seja
Todo dia a mesma hora
meu prato feito
quando eu for embora
seja assim.
Seja
toda e qualquer certeza
minha inquietude
minha beleza
seja!
Seja
enquanto estiveres
viva e cheia de encanto
entre todas as mulheres
seja nós.
Seja
dormindo nos meus braços
minha calmaria
todo o meu cansaço
e me
beija.
Eu acho que não sei mais
Certeza que eu não te amo.
Faz muito tempo.E isso não quer dizer apenas que passou.
Talvez uma coisa ou outra
tenha mudado,
mas sabe,
eu ainda sou o mesmo daquela festa
e cultivo as mesmas idéias.
De longe eu ainda ando do seu lado.
Bem provável que você não mais me queira.
Mas sempre que passo em frente a tua casa,
é como se me dessem asas
e eu voasse pra um lugar distante.
Me lembro as vezes do primeiro beijo,
da forsação de barra,
do quanto, sendo iguais, éramos diferentes.
E eu te amava.
Amava nos mínimos detalhes.
De ter ver acordar.
Te sentir dormir e sonhar.
Talvez você também me quisesse bem,
ao me ter sempre e sempre abraçado
aos seus sonhos de mulher.
Talvez ainda te ame.
Mas as coisas estão meio fora do lugar,
também estamos longe,
a estrada é escura
e não há mais como voltar.
Certeza que eu ainda te amo.
Como um menino que se debruça quando sorri,
eu me derreto ao te ver passar.
E por certo você também me queira
e essa seja talvez a dúvida
de nunca mais ter olhado em meu olhar.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sede de tempestade
Por um instante eu te observei contente
e te achei tão óbvia quanto uma linha reta não fazer curvas.
Você ainda é a mesma.
Palavras e gestos.
O cara que ontem fui, não há como dizer o contrário
mudou e muito.
Letras e canções.
Se eu te dissesse que seria diferente
e que brotariam girassóis em minha janela
toda vez que te visse,
seria a mentira mais doentia que um coração covarde
poderia dizer.
Como você muito sabe,
não me permito uma só palavra que asfixie seu cotidiano.
Por mais que um dia essa vontade
tenha se virado contra mim,
jamais me contradiria diante do mal que você pode me causar.
É, ficamos distantes,
dentes e unhas,
e se estenderam parágrafos e mais parágrafos
em tortos quilômetros.
O dia morreu em silêncio e lágrima pra nós dois
e hoje não há mais o que fazer.
De todos os sábados de riso e gozo,
todas a manhãs de segunda em êxito,
amigos, sentidos e direções,
de todas as quartas ciumentas
todas as caretas bêbadas,
de tudo isso,
ficou em nós apenas a dor mais profunda.
Simpatia de casa nova
Vamos fazer
(de)coração.
Chegou de hora de compartilhar.
Vou deixar a porta aberta,
amor.
Assim nos vem mais fáceis
as descobertas.
Quero colchão no chão
geladeira
armário e fogão.
O resto você decide,
agora é nosso esse lugar,
e poderemos
nos mobiliar.
Qualquer dia você me lembra de apertar
meus parafusos.
(De)coração
a gente pode fazer.
Fogareiro
É de repente como as ondas que se chegam
mas não tão de repente que não se possa imaginá-las.
Sem pensar, seguiram calmamente.
O que lhe dera foi de instinto; uma rosa.
Pensava inutilmente em como seriam eles dois
dez, vinte, cinquenta anos depois.
Chegava a tarde cinza e desanimavam os pensamentos.
Ela lhe retribuíra em tudo, eternidade.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Tê-la.
Haja horas pra pensar
e sobrem minutos pra permanecer
sua foto na minha cabeça
seu desejo em minha boca
e
o tempo que for preciso pra te querer.
Quem sabe no próximo final de semana
eu vá aí te ver
pra gente conversar bastante
pra quem sabe ser seu amigo-amante
e
derreter.
Derreter no que for mais importante
e se importar
apenas
com o que for pra sempre.
Se eu continuar pensando em você
acho
que vou acabar me apaixonando.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Cenas do cotidiano
Sobre a minha libertação
Haikai de compensação
Tipim do meu tipim
A gente vive
e às vezes, quase sempre, nem se preocupa
com o fator acaso.
E se acaso
essa for a sua hora
de jogar tudo pro alto,
se junte a mim.
Também faço coro aos que gritam
liberdade.
Mas amor,
eu não me importo se esta mesma liberdade
for estar preso à você.
Tudo isso me cairia muito bem.
A gente passaria horas na cozinha
só falando bobagem.
Quem sabe?
Dormir num puff assistindo DVD.
E sabe por que?
Não?
Deixa eu ser bobo do seu lado.
Que o amor não tem por que.
Deixa eu ser bobo por você.
Vamos fazer coisas de gente grande
e coisas de criança,
por que afinal de contas,
o que mesmo a gente tem a perder?
Você não me conhece,
eu não conheço você.
Se, num último suspiro,
depois de muitas brigas,
muitas idas,
muitas vindas,
a gente decidir
que acabou por ali,
pelos menos a gente vai ter o que lembrar.
Mas não custa nada tentar.
Deixa o amor falar.
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